O presente trabalho teve como objetivo analisar a obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, publicada em 2019, tomando como base o conceito de Escrevivência da escritora Conceição Evaristo (2013). A fundamentação teórica da pesquisa possui como referência esse conceito além de leituras críticas de autoras como Djamila Ribeiro, em especial, a obra Lugar de Fala e o Pequeno Manual Antirracista. Intencionou-se pensar como o conceito perpassa pela trajetória narrativa das personagens Bibiana e Belonísia, por meio de uma leitura que compreende a escrevivência como rota de escrita literária e ferramenta metodológica de escrita acadêmica, intercalando-se as trajetórias das personagens às memórias da autora-pesquisadora. A análise justifica-se pela necessidade de compreender como a literatura pode tornar-se uma via de resistência frente ao racismo estrutural, ao trazer para o foco da narrativa a vida de mulheres negras e seus enfrentamentos diários. Na obra de Itamar, observa-se a força e a resiliência das mulheres que, desde o nascimento, são destinadas ao casamento, à maternidade, à fome e ao trabalho braçal, mas que, apesar dessas adversidades, mantêm-se firmes em sua resistência. Como resultado, a contribuição para o aprofundamento dos estudos acerca da temática em questão, além de fomentar futuras pesquisas sobre personagens negras na literatura, especialmente no contexto brasileiro, em que o debate sobre raça e gênero tem ganhado destaque.